As duas primeiras conferencias do Fronteiras do Pensamento tiveram como tema tecnologia da informação e trouxeram ao publico uma série de novidades, uma visão maravilhosa e, para mim, um tanto assustadora de onde vamos chegar a curto prazo com a robótica e seus diversos desdobramentos. Mas, se o inicio voltava-se para modernização, as seguintes nos levaram a reflexões sobre o nosso papel humano nas sociedades e a consciência do que está acontecendo com o planeta.
O Dr. Mukwege, médico e fundador do Hospital de Panzi, em Bukavu, República Democrática do Congo, especialista em atendimento a mulheres vítimas de violência sexual, contou os dilemas vividos por milhares de africanos. Segundo ele, esses dilemas só podem ser entendidos dentro do contexto histórico. Falou da chaga profunda deste povo, que passou pela escravidão, o colonialismo e o ser humano, disputado pelos países da guerra fria .
A Conferencia de Jean-Michel Cousteau, oceanógrafo e ambientalista, produtor cinematográfico, educador, especialista em Arquitetura Marinha e fundador Ocean Futures Society – OFS, organização sem fins lucrativos, que trabalha com programas de conservação marinha e educação ambiental, tratou de ambientalismo do “macro” para o “micro”. Iniciou falando das mudanças climáticas e suas conseqüências e partiu para a Amazônia, segundo ele, o pulmão do mundo e de responsabilidade do Brasil. Ele mostrou imagens e vídeos, apontou problemas e recorreu ao amor como a melhor forma de sensibilizar as pessoas para a cura do planeta.
Abaixo veja os resumos disponibilizados pela UNIMED e os vídeos exibidos por Jean Michel Cousteau neste link da ONG fundada pelo oceanógrafo
http://www.youtube.com/user/OceanFuturesSociety
A África fala ao Brasil no Fronteiras do Pensamento - Denis Mukwege
Por Sonia Montaño
A África fala ao Brasil no Fronteiras do Pensamento - Denis Mukwege
Por Sonia Montaño
O médico ginecologista congolês Denis Mukwege aproximou a África do Brasil numa noite em que a solidariedade falou mais alto. A conferência pronunciada na noite de ontem, dia 28 de junho, teve como debatedor o jornalista Marcos Rolim, com longa trajetória em instituições internacionais de Direitos Humanos. Sem a pretensão de falar em nome de todos os africanos, o conferencista abordou o assunto proposto sob três ângulos: humanitário, médico e dos direitos humanos e democracia.
Segundo Mukwege, a África vive um profundo dilema. Está entre duas civilizações, suspensa entre dois mundos. O continente se situa entre o desenvolvimento e a autossuficiência, entre o progresso autônomo e a dependência. Essas dialéticas estão presentes no cotidiano africano, deixando o continente aparentemente entre duas forças: a tradição e a modernidade. Alguns se polarizam numa ou na outra, mas, para o conferencista, a África só pode ter uma saída entre as duas correntes, buscando caminhos de colaboração com o resto do mundo. Esses dilemas não podem ser entendidos fora da história, uma chaga profunda e dolorosa, que passou pela escravidão, o colonialismo e o ser disputada pelos países da guerra fria. Quanto à recuperação da independência, a áfrica sofre da perda de interesse estratégico para os antigos aliados. Após a guerra fria, o mundo se voltou para os países do Leste, e países como a República Democrática do Congo, com mais de 5 milhões de mortos e mais de 500 mil mulheres vítimas de violência sexual, estão à margem da preocupação da comunidade internacional.
A crise humanitária da África
Entre os grandes problemas da África subsaariana1, o conferencista destacou:
- A situação da saúde é alarmante, sendo que o desenvolvimento depende em ampla medida das condições de saúde das comunidades. Há também febre, tuberculose, paludismo e HIV. A mortalidade infantil também é grande. A África suporta 24% de mortalidade mundial, mas só tem 3% de profissionais da saúde mundial e menos de 1% dos recursos mundiais.
- Analfabetismo: o relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 2010 afirma que 72 milhões de crianças em idade escolar ainda não estão matriculadas na escola na África. O continente tem índices enormes de abandono e fracasso escolar pelo uso da língua estrangeira. Os alunos não podem usar a língua do cotidiano na escola. Esta experiência traz insatisfação.
- A fuga de cérebros: os africanos que acabam seus estudos superiores têm o dilema de migrar ou ficar. Muitos não permanecem no continente.
- O poder na África tende a ser aceito como inato e transmissível de forma hereditária. Nessa lógica monárquica são escolhidos os presidentes, que em três países da África são filhos dos presidentes anteriores que ficaram até morrer. A democracia não funciona assim, o poder é escolhido e deve prestar contas.
Não há democracia sem direitos humanos. Poucos países reconhecem a dignidade – inerente da pessoa. São raros os que garantem para todos as mesmas chances.
Ajuda humanitária
Para Denis Mukwege a ajuda humanitária deve ser questionada quando passa o tempo e os problemas estão longe de ser resolvidos. Ciclos sem fim de doença e de pobreza levam a pensar que os africanos são pobres justamente por causa dessa assistência. Quando o índice de ajuda alcançou seu ápice, o índice de pobreza aumentou.
Ajuda humanitária deve agir em situações de calamidade ou guerra e a ajuda deve ser incondicional e desinteressada; universal, imparcial, independente e neutral. Quando a ajuda é assistencialista, a crise perdura no tempo e surge o problema do retorno à autonomia dos beneficiários para se tornarem independentes. A ONU tem grandes meios tanto de comunicação quanto militares, mas se observa uma inércia, segundo o africano. Eles enviam pessoas para observar e elaborar relatórios enquanto a violência acontece na frente dos observadores. “Eu não posso aceitar que com 16 mil homens no Congo, a ONU não encontre uma solução para a violência..
O cuidado integral da vida
O médico lembra que quando uma mulher chega ao hospital porque foi violentada é atendida fisicamente sim, mas precisa ser ouvida. “Quando tratamos o doente devemos ir além do orgânico. O grande erro seria, nos casos que não apresentam problema físico, dizer que não há problema algum, que pode voltar para casa. Quando a pessoa vem nos ver quer que se preste atenção nela, deve ser escutada”, disse Mukwege.
Encontro com o presidente Lula
Perguntado sobre o encontro que o conferencista deverá ter com o presidente Lula, ele disse que espera do presidente e dos brasileiros em geral a formação de uma rede mundial para combater a violência contra as mulheres, seja doméstica, sexual ou de qualquer outro tipo. “Preciso das vozes de vocês, se cada um dissesse não à violência contra a mulher a impunidade cessaria e o estupro, que é uma destruição da mulher, seria punido com muito mais rigor. Gostaria de expressar a todos os presidentes o sofrimento das mulheres congolesas”, disse Mukwege.
Mensagem para jovem médico brasileiro
Respondendo ao pedido do público de dar uma mensagem aos jovens médicos brasileiros, Mukwege disse que a mensagem os próprios médicos brasileiros, que conheceu na sua estadia em Porto Alegre, já a praticavam: “Quando temos um contato com um doente, temos a responsabilidade de ajudá-lo, não só tratar a ferida física, ouvir esse paciente, sustentá-lo na sua dor. Mostrar compaixão, isto aprendi com um médico brasileiro que está aqui na plateia e é esta prática que deve ser exercida: a da compaixão e da compreensão”, encerrou o conferencista.
A beleza do mundo submarino na visão de Jean-Michel Cousteau
Por Sonia Montaño
Filho de Jacques Cousteau, explorador francês pioneiro na descoberta dos recursos do fundo do mar, Jean-Michel Cousteau foi o conferencista da noite de ontem, 5 de julho, no Fronteiras do Pensamento. Jean-Michel, oceanógrafo e ambientalista francês, abordou o tema Aventuras no Oceano: do Amazonas à Antártida e teve como debatedora Lara Lutzenberger, bióloga, presidente da Fundação Gaia, e filha do ambientalista brasileiro José Lutzenberger. Ao apresentar Jean-Michel, Lara se lembrou de um encontro semelhante ao da noite de ontem, entre Lutzenberger e Jacques Cousteau, em um congresso na Alemanha, com crianças preocupadas com os problemas ambientais. A bióloga, introduzindo a conferência, afirmou que para lutar por uma causa devemos ter um vínculo emocional com ela, e para construir esse vínculo precisa de interação, conhecimento e enamoramento pela causa.
Jean-Michel Cousteau iniciou sua fala lembrando que aos sete anos seu pai o teria empurrado para dentro das águas oceânicas com um cilindro nas costas, junto com seu irmão, no Mediterrâneo. “Me senti como uma criança numa loja de brinquedos, me apaixonei pelo que vi”, afirmou o oceanógrafo. Os anos foram passando e, à medida que mergulhava mais profundamente, via cada vez mais lixo no fundo do oceano. Ele destacou as interligações do sistema aquático: se bebemos água ou esquiamos, é do oceano que estamos falando, se depositamos lixo no Amazonas ele vai chegar à Europa, à América, a todos os continentes.
Amazônia
Jean-Michel lembrou os anos de 1981 a 1983, quando passou 20 meses com seu pai e suafamília na Amazônia. O Amazonas se tornou o lar da família Cousteau durante esse período. Naépoca, a região amazônica de Manaus contava com muito poucos habitantes. Quatro anos atrás, o ambientalista voltou à região e a achou com 2milhões de habitantes, afetando o rio Negro e o rio Amazonas. “Quando se olha o Amazonas, que eu chamo de raiz do oceano, vemos que esses rios estão distribuídos em nove países diferentes. O Brasil controla 65% do rio, e 20% da água doce vem de lá”, explicou o francês. Para ele é urgente aprender a gerenciar esses recursos do mesmo modo que se gerencia uma empresa, usufruir dos lucros sem gastar os recursos. “Se você gasta mais que a receita, vai à falência. Neste ponto nos encontramos atualmente. Ninguém quer chegar lá. O Amazonas é um tesouro que vocês têm no país de vocês”, repetiu diversas vezes o conferencista.
Mudanças climáticas
Segundo o oceanógrafo, temos um trabalho a fazer: diminuir a emissão de CO2. Os céticosnão acreditam que as mudanças climáticas se devem à presença do homem na Terra, mas,conforme o conferencista, estão enganados. As mudanças acontecem quando não conseguimos mais reciclar o impacto que causamos no planeta. A emissão de CO2 é de nossa responsabilidade, ele acelera o processo de aquecimento que naturalmente ocorreria. Asmudanças climáticas terão ainda um impacto em muitas pessoas, que deverão abandonar suas casas, e não há estrutura para enfrentar esse problema. As regiões muito planas vão acabar embaixo da água. No sul do Pacífico já estão começando a sair do lugar onde vivem. A temperatura aumenta o volume da água e aquece o clima. Além disso, o CO2 produz um efeito de acidez no oceano que faz com que a capacidade dos animais de construir seu esqueleto diminua. Crustáceos não vão conseguir montar suas carapaças por causa dessa acidez. Outra consequência das emissões é que as geleiras estão diminuindo. Muitas pessoas dependem do gelo para a obtenção da água doce e para gerar eletricidade. As autoridades estão começando a perfurar para encontrar mais petróleo e gás na bacia amazônica, colocando uma tubulação para petróleo e outra para água. Precisa-se de 20 litros de água doce para cada litro de gasolina, e depois essa água é colocada de novo no ambiente sem tratar, poluindo. Ela deve ser tratada antes de ser colocada no ambiente, e há tecnologias que possibilitam o tratamento. Sua equipe está sugerindo isso no Peru e também em outras regiões onde esses procedimentos são realizados.
A tarefa do oceanógrafo e de seus colaboradores da fundação Ocean Futures Society é dialogar com empresários, autoridades e buscar de todas as formas fazer com que os que tomam as decisões tomem antes conhecimento desses fatos.
O mundo submarino
O ambientalista desmitificou ainda o mundo submarino como um mundo temido e ameaçador para o homem. “Meu pai me empurrou pra dentro da água e me tornei um mergulhador. Gosto de estar debaixo da água principalmente porque lá não há mosquitos, mas há jacarés, piranhas, tartarugas gigantes, crocodilos, anacondas e animais assustadores”, afirmou Jean-Michel. Contudo, mostrou diversos vídeos em que seus filhos nadavam com tais animais e estes não demonstravam interesse nos humanos. “No fundo do mar, eles não nos atacam, não estão interessados nas pessoas”, demonstrou o ambientalista.
Legado de Jacques Cousteau: protegemos o que amamos
Para resumir o legado principal do pai, Jean-Michel contou uma história. No final da expedição ao Amazonas, nos anos 1980, a família tinha adotado uma ariranha que estava machucada e cuidou dela. A ariranha morou com eles, brincava, era da família, estava tão acostumada aos humanos que precisaram encontrar outro lar para ela antes de irem embora. “Ela fazia bagunça, pulava na nossa cama, na mesa durante o almoço, mas nós a amávamos e foi muito difícil nos separarmos dela”, lembrou o cientista. Quando a separação foi inevitável, ficaram muito tristes, e seu pai lhes disse, depois de um longo silêncio: “As pessoas protegem aquilo que amam”. Para ele, isso foi o resumo de como virar o rumo da história, convidando a plateia a pensar nessa possibilidade enquanto exibiu um vídeo sobre as baleias do Havaí.
Respondendo a perguntas do público, Jean-Michel lembrou algumas formas de contribuirmos para a busca de uma sociedade sustentável. “Nos EUA cada individuo consome de 1.000 a 1.600 sacolas durante um ano. Eu uso a sacola que minha mãe usava. Em alguns lugares, se você leva a mesma sacola recebe 5 centavos, pode melhorar seu padrão de vida e ajuda a diminuir o lixo. No oceano a tartaruga vai ver sacola de plástico e vai pensar que é uma água viva, vai comer o plástico e vai morrer”, exortou o francês.
O conferencista finalizou falando do seu livro Meu pai, o capitão, em homenagem aos cem anos que seu pai teria completado no dia 11 de junho deste ano. Na verdade, ele queria dar o título Minha mãe, o capitão, mas os editores não permitiram. No livro fica evidente a força da mãe de Jean-Michel, que animou a família e a tripulação. “Ela morreu sete anos antes e meu pai ficou totalmente perdido sem ela”, lembra o filho. Contudo, há muitos Cousteaus que seguem o caminho do seu pai sem necessariamente levar o sobrenome, dedicando-se ao bem-estar dos humanos no planeta. “Trata-se de gerenciar e proteger nosso ambiente, osistema que nos sustenta.
Devemos cuidar as pessoas, o oceano, a educação. Sei que amanhãposso não estar mais aqui, mas há muita gente que seguirá o sonho de meu pai”, enfatizou Jean-Michel.
Respondendo ao pedido do público de dar uma mensagem aos jovens médicos brasileiros, Mukwege disse que a mensagem os próprios médicos brasileiros, que conheceu na sua estadia em Porto Alegre, já a praticavam: “Quando temos um contato com um doente, temos a responsabilidade de ajudá-lo, não só tratar a ferida física, ouvir esse paciente, sustentá-lo na sua dor. Mostrar compaixão, isto aprendi com um médico brasileiro que está aqui na plateia e é esta prática que deve ser exercida: a da compaixão e da compreensão”, encerrou o conferencista.
A beleza do mundo submarino na visão de Jean-Michel Cousteau
Por Sonia Montaño
Filho de Jacques Cousteau, explorador francês pioneiro na descoberta dos recursos do fundo do mar, Jean-Michel Cousteau foi o conferencista da noite de ontem, 5 de julho, no Fronteiras do Pensamento. Jean-Michel, oceanógrafo e ambientalista francês, abordou o tema Aventuras no Oceano: do Amazonas à Antártida e teve como debatedora Lara Lutzenberger, bióloga, presidente da Fundação Gaia, e filha do ambientalista brasileiro José Lutzenberger. Ao apresentar Jean-Michel, Lara se lembrou de um encontro semelhante ao da noite de ontem, entre Lutzenberger e Jacques Cousteau, em um congresso na Alemanha, com crianças preocupadas com os problemas ambientais. A bióloga, introduzindo a conferência, afirmou que para lutar por uma causa devemos ter um vínculo emocional com ela, e para construir esse vínculo precisa de interação, conhecimento e enamoramento pela causa.
Jean-Michel Cousteau iniciou sua fala lembrando que aos sete anos seu pai o teria empurrado para dentro das águas oceânicas com um cilindro nas costas, junto com seu irmão, no Mediterrâneo. “Me senti como uma criança numa loja de brinquedos, me apaixonei pelo que vi”, afirmou o oceanógrafo. Os anos foram passando e, à medida que mergulhava mais profundamente, via cada vez mais lixo no fundo do oceano. Ele destacou as interligações do sistema aquático: se bebemos água ou esquiamos, é do oceano que estamos falando, se depositamos lixo no Amazonas ele vai chegar à Europa, à América, a todos os continentes.
Amazônia
Jean-Michel lembrou os anos de 1981 a 1983, quando passou 20 meses com seu pai e suafamília na Amazônia. O Amazonas se tornou o lar da família Cousteau durante esse período. Naépoca, a região amazônica de Manaus contava com muito poucos habitantes. Quatro anos atrás, o ambientalista voltou à região e a achou com 2milhões de habitantes, afetando o rio Negro e o rio Amazonas. “Quando se olha o Amazonas, que eu chamo de raiz do oceano, vemos que esses rios estão distribuídos em nove países diferentes. O Brasil controla 65% do rio, e 20% da água doce vem de lá”, explicou o francês. Para ele é urgente aprender a gerenciar esses recursos do mesmo modo que se gerencia uma empresa, usufruir dos lucros sem gastar os recursos. “Se você gasta mais que a receita, vai à falência. Neste ponto nos encontramos atualmente. Ninguém quer chegar lá. O Amazonas é um tesouro que vocês têm no país de vocês”, repetiu diversas vezes o conferencista.
Mudanças climáticas
Segundo o oceanógrafo, temos um trabalho a fazer: diminuir a emissão de CO2. Os céticosnão acreditam que as mudanças climáticas se devem à presença do homem na Terra, mas,conforme o conferencista, estão enganados. As mudanças acontecem quando não conseguimos mais reciclar o impacto que causamos no planeta. A emissão de CO2 é de nossa responsabilidade, ele acelera o processo de aquecimento que naturalmente ocorreria. Asmudanças climáticas terão ainda um impacto em muitas pessoas, que deverão abandonar suas casas, e não há estrutura para enfrentar esse problema. As regiões muito planas vão acabar embaixo da água. No sul do Pacífico já estão começando a sair do lugar onde vivem. A temperatura aumenta o volume da água e aquece o clima. Além disso, o CO2 produz um efeito de acidez no oceano que faz com que a capacidade dos animais de construir seu esqueleto diminua. Crustáceos não vão conseguir montar suas carapaças por causa dessa acidez. Outra consequência das emissões é que as geleiras estão diminuindo. Muitas pessoas dependem do gelo para a obtenção da água doce e para gerar eletricidade. As autoridades estão começando a perfurar para encontrar mais petróleo e gás na bacia amazônica, colocando uma tubulação para petróleo e outra para água. Precisa-se de 20 litros de água doce para cada litro de gasolina, e depois essa água é colocada de novo no ambiente sem tratar, poluindo. Ela deve ser tratada antes de ser colocada no ambiente, e há tecnologias que possibilitam o tratamento. Sua equipe está sugerindo isso no Peru e também em outras regiões onde esses procedimentos são realizados.
A tarefa do oceanógrafo e de seus colaboradores da fundação Ocean Futures Society é dialogar com empresários, autoridades e buscar de todas as formas fazer com que os que tomam as decisões tomem antes conhecimento desses fatos.
O mundo submarino
O ambientalista desmitificou ainda o mundo submarino como um mundo temido e ameaçador para o homem. “Meu pai me empurrou pra dentro da água e me tornei um mergulhador. Gosto de estar debaixo da água principalmente porque lá não há mosquitos, mas há jacarés, piranhas, tartarugas gigantes, crocodilos, anacondas e animais assustadores”, afirmou Jean-Michel. Contudo, mostrou diversos vídeos em que seus filhos nadavam com tais animais e estes não demonstravam interesse nos humanos. “No fundo do mar, eles não nos atacam, não estão interessados nas pessoas”, demonstrou o ambientalista.
Legado de Jacques Cousteau: protegemos o que amamos
Para resumir o legado principal do pai, Jean-Michel contou uma história. No final da expedição ao Amazonas, nos anos 1980, a família tinha adotado uma ariranha que estava machucada e cuidou dela. A ariranha morou com eles, brincava, era da família, estava tão acostumada aos humanos que precisaram encontrar outro lar para ela antes de irem embora. “Ela fazia bagunça, pulava na nossa cama, na mesa durante o almoço, mas nós a amávamos e foi muito difícil nos separarmos dela”, lembrou o cientista. Quando a separação foi inevitável, ficaram muito tristes, e seu pai lhes disse, depois de um longo silêncio: “As pessoas protegem aquilo que amam”. Para ele, isso foi o resumo de como virar o rumo da história, convidando a plateia a pensar nessa possibilidade enquanto exibiu um vídeo sobre as baleias do Havaí.
Respondendo a perguntas do público, Jean-Michel lembrou algumas formas de contribuirmos para a busca de uma sociedade sustentável. “Nos EUA cada individuo consome de 1.000 a 1.600 sacolas durante um ano. Eu uso a sacola que minha mãe usava. Em alguns lugares, se você leva a mesma sacola recebe 5 centavos, pode melhorar seu padrão de vida e ajuda a diminuir o lixo. No oceano a tartaruga vai ver sacola de plástico e vai pensar que é uma água viva, vai comer o plástico e vai morrer”, exortou o francês.
O conferencista finalizou falando do seu livro Meu pai, o capitão, em homenagem aos cem anos que seu pai teria completado no dia 11 de junho deste ano. Na verdade, ele queria dar o título Minha mãe, o capitão, mas os editores não permitiram. No livro fica evidente a força da mãe de Jean-Michel, que animou a família e a tripulação. “Ela morreu sete anos antes e meu pai ficou totalmente perdido sem ela”, lembra o filho. Contudo, há muitos Cousteaus que seguem o caminho do seu pai sem necessariamente levar o sobrenome, dedicando-se ao bem-estar dos humanos no planeta. “Trata-se de gerenciar e proteger nosso ambiente, osistema que nos sustenta.
Devemos cuidar as pessoas, o oceano, a educação. Sei que amanhãposso não estar mais aqui, mas há muita gente que seguirá o sonho de meu pai”, enfatizou Jean-Michel.