“O tempo se vai. As vezes, penso que precisaria viver apressado, tirar o máximo proveito destes dias que me restam. Hoje em dia, qualquer um pode me dizer, depois de esquadrinhar as minhas rugas: “Mas o senhor ainda é um homem jovem! Ainda. Quantos anos me restam de ‘ainda’”? Penso nisso e me dá pressa, tenho a angustiante sensação de que a vida me foge, como se minhas veias se tivessem aberto e eu não pudesse deter meu sangue. Porque a vida são muitas coisas (trabalho, amizade, saúde, dinheiro, complicações), mas ninguém vai me negar que, quando pensamos nesta palavra, Vida, quando dizemos que ‘nos agarramos a vida’, estamos assimilando-a a outra palavra mais concreta, mais atraente, mais seguramente importante: estamos assimilando-a ao Prazer. Penso no prazer ( qualquer forma de prazer ) e tenho certeza que isso é vida.”
Este trecho foi retirado do livro “A Trégua” de Mario Benedetti , trata-se de uma reflexão do personagem sobre o tempo e a vida prestes a completar 50 anos.
Pois a verdade seja dita: a natureza humana reivindica por Vida.
Eu não gosto de previsões, mas algumas coisas são inevitáveis de serem previstas e uma delas é que, mais cedo ou mais tarde, algo em você vai cobrar esta sensação de estar Vivo.
Outro dia fui assistir uma comédia brasileira que chama “Divã” de José Alvarenga Junior. No seu divã a personagem – atriz Lilia Cabral - dizia estar feliz, mas com alguma coisa que precisava mudar e não sabia bem o que era. Ela acaba mudando a vida através da separação e ok, ela achou um recurso para dar vitalidade e prazer a sua vida e o fez através disto. Mas a que preço? Eu saí do cinema pensando que o caminho que ela tinha escolhido não tinha volta mesmo e que, para ela, só restava ir adiante e fazer o melhor para ser feliz e, de fato dar espaço, para as suas coisas pessoais. O que ela faz.
Mas a questão é que existem muitos jeitos de se dar sentido e prazer à vida e nem sempre se precisa mudar tudo tão radicalmente. Muitas vezes podemos trazer este sentido de vitalidade re-significando o que existe, mudando a forma e equilibrando áreas da vida.
Para alguns, um pouquinho mais de aventura, para outros um espaço para cultura ou quem sabe mais trocas afetivas. Eu sempre digo que temperar com pequenos desafios dá um colorido especial a vida, e que cada pessoa tem o algo que um dia deixou de lado lá bem guardadinho em uma gavetinha chaveada. Quem sabe?
Cada vez mais eu acompanho pessoas que, de alguma forma, foram orientadas para seguirem um caminho que trazia mais segurança, respeito, validação, etc. Muitos foram bem sucedidos neste caminho e hoje se orgulham disto, mas por conta de muita dedicação a uma área especifica perderam coisas importantes que, de alguma maneira, hoje fazem falta.
Os chineses tratam de qualquer questão pelo modelo dos cinco elementos e eu ao associá-los a psicologia abordo cinco áreas fundamentais que pulsam em todos nós buscando satisfação: a material, que nos traz segurança de subsistência (nosso movimento Metal); a afetiva amorosa, que nos nutre das sensações de ser amado, amar, dar e receber afeto ( movimento Terra ); a social relacional, nas quais as interações familiares e de amizade respondem pelas nossas validações e confirmações diversas ( movimento Fogo ); a de lazer, de prazer lúdico e criativo, cuja curiosidade e o desejo de conhecer e experimentar agrega ao pessoal (movimento Madeira) e a área que já foi mais relacionada a religião e hoje é ampliada para o espiritual, que nos dá o conforto e a noção de “sentido maior” quanto ao estar vivo (movimento Água).
Entenda que não estou falando de perfeição ou plenitude total. Ser feliz, ou seja, sentir-se Vivo não tem a ver com perfeição, tem a ver com dar espaço e abrir possibilidades.
Cláudia Guglieri
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