Amanhã acontecerá a segunda edição do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. Estou participando e, sem dúvida, está valendo a pena.
A primeira contou com a presença do médico e cientista Miguel Nicollelis com a apresentação “A neurociência do século XXI”. Falou de neurociência e dos avanços tecnológicos da área. Algo bonito de ver e assustador ao mesmo tempo. Saí do Salão de Atos da UFRGS desperta para a realidade do nosso futuro. A união da neurociência a tecnologia da informação é um avanço e tanto, beneficiará inúmeras pessoas no mundo. Ver a possibilidade de soluções para problemas tão graves como o Mal de Parkinson e outras tantas paralisias motoras é encantador.
Sem dúvida, estamos entrando na era da robótica, chips e demais ferramentas como braços e roupas eletrônicas não demoraram muito para estarem em uso. Mas no que se refere ao ser humano e seus limites, me parece um tanto assustador. Sabe-se lá onde isso tudo vai parar.
Dê uma olhada no resumo abaixo, eu recomendo, ele dá uma idéia do que estou tentando passar para vocês.
Amanhã, segunda-feira dia 14/06, o cientista Raymond Kurzweil fará uma apresentação holográfica, estará em tamanha natural e tridimensional no palco, como se estivesse fisicamente presente. Ele tratará acima de tudo da relação de toda esta tecnologia com o ser humano. Este cientista americano, tecnólogo em Inteligência Artificial se dedica a elaborar dispositivos eletrônicos de interação homem-máquina. Vamos ver!
Resumo da conferencia “A neurociência do século XXI”
Por Sonia Montaño
O século da neurociência
O conferencista convidou a platéia a ver uma imagem de tempestade cerebral e ouvir uma sinfonia neuronal. As imagens e os sons correspondiam à transformação visual e motora em cem neurônios do cérebro de uma macaca chamada Aurora, disparados entre o instante em que ela era estimulada a uma ação e o momento em que ela começou a realizá-la. O cientista demonstrou assim que é possível captar o espaço temporal de um pensamento, a tempestade elétrica que faz com que o sonho se transforme em ação. Essa leitura e a decodificação da atividade elétrica do cérebro são conquistas com profundas implicações na medicina e no futuro de nossa própria espécie e, para demonstrar essa afirmação, o médico foi apresentando ao auditório diversos experimentos realizados em macacos e ratos.
A criação de braços robóticos
Uma primeira consequência da descoberta é a possibilidade de controlar membros mecânicos a distância, novas próteses. O fato vai permitir um dia que a atividade elétrica do nosso cérebro se liberte definitivamente dos limites físicos impostos por nossos corpos. O cientista mostrou esse processo de ida e volta de informações entre um cérebro de verdade e um robô com os experimentos realizados em Aurora. A macaca foi ensinada a jogar videogame, estimulada com o prêmio de suco de laranja a cada acerto. Capaz de jogar durante horas, Aurora aprendeu a ganhar, inclusive a trapacear. Enquanto o animal aprendia a jogar, a tempestade cerebral produzida era registrada com computadores que criavam modelos matemáticos, extraindo os comandos responsáveis pelo movimento. Essa informação era enviada a outra sala onde um braço robótico aprendia a fazer os movimentos da Aurora pela decodificação dos modelos matemáticos. A macaca via numa tela esse braço robótico e foi incorporando-o como próprio. Quatro semanas depois, foi aprendendo a jogar imaginando os movimentos, sem a ação motora. É a própria tempestade elétrica que alimenta agora os 21 modelos que movimentam o braço robótico. O cérebro da Aurora conseguiu se livrar dos limites físicos e agir a distância, só pelo pensamento.
O cérebro, grande simulador
Para explicar a descoberta que demonstra o cérebro como um grande simulador, Nicolelis apresentou outra macaca, Idoya. O experimento que foi realizado com Idoya, a primeira macaca a andar como nós, de forma bipedal numa esteira, mostra sua atividade cerebral e seus padrões de locomoção enquanto caminha na esteira. Idoya realizava essa atividade na costa leste da Carolina do Norte, e sua atividade cerebral era enviada para Kyoto, no Japão, onde um robô decodificava a tempestade cerebral da primata. O robô era projetado na frente da macaca, e ela tinha assim a impressão de que eram suas próprias pernas. Com esse experimento, o médico demonstra que uma simulação produzida por bilhões de neurônios interconectados se amplia, incorporando novas ferramentas como se fossem do próprio cérebro. O corpo passa a terminar agora nos limites da ferramenta que o cérebro controla.
O sonho de criar um corpo artificial
O conferencista explicou que o objetivo de todos os seus experimentos, além de estudar as tempestades do cérebro que mostram nossos desejos, experiências, temores, é usar a interface cérebro-máquina para reabilitar o movimento em casos de lesões medulares.
Cérebros que ainda sonham em vasculhar o mundo e não podem realizar isso porque foram privados da função motora se beneficiarão de uma medula espinhal eletrônica possibilitada por uma veste robótica, um novo corpo que o paciente vai usar como seu. O engenheiro Gordon Cheng, colega de Nicolelis no Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, maior roboticista do mundo, é quem está criando essa veste.
A cura do Mal de Parkinson
Outro dos resultados obtidos por Nicolelis e sua equipe tem a ver com a cura do Mal de Parkinson. Experimentos feitos em um camundongo parkinsoniano, que se encontrava paralisado, mostraram como o cérebro pode receber e processar ordens de movimento. O cientista explicou que o estado parkinsoniano nada mais é que uma crise epiléptica, em que neurônios dispam no mesmo momento. O cérebro precisa de caos, ordem demais é patológico. A sincronia perfeita é a paralisia. Se todos os neurônios disparam ao mesmo tempo, a diversidade que o cérebro precisa ter não ocorre. A solução foi produzir caos dentro da ordem cerebral do camundongo, e dessa forma os pesquisadores conseguiram que o animal recuperasse o movimento sem nenhuma medicação. Esses procedimentos poderão ser usados em futuro próximo em pacientes humanos para essa e outras doenças.
Conclusão: o futuro da neurociência
Para encerrar uma noite que o público demonstrou ser inesquecível, pela calorosa resposta de aplausos em pé ao conferencista, ele reservou os últimos minutos para afirmar que a neurociência do século XXI vai fazer muito pela humanidade. Mais do que explicar quem somos, e suscitar novas terapias, novas curas para doenças que afetam milhões de pessoas, a neurociência e a ciência em geral vão ser agentes de transformação social. Como exemplo dessa afirmação, Nicolelis falou do Instituto Internacional de Neurociências de Natal-Edmond e Lily Safra, em que funciona um arquipélago de conhecimento. Lá o método científico é ferramenta de formação de cidadãos. Segundo o médico, o Instituto está ligado ao mundo da neurociência por uma dimensão virtual que nucleia todos os que querem produzir esse tipo de conhecimento, sem fronteiras, que vai além das universidades, definidas por Nicolelis como castelos medievais. O Instituto é um experimento sociológico em que crianças de periferia provindas das piores escolas avaliadas pelo MEC aprendem ciência de ponta se divertindo em um grande parque de diversões. Elas aprendem fazendo robótica, ciência, tecnologia, informática. Inspiradas em Santos Dumont, o brasileiro que se propôs a voar e voou, as crianças aprendem que elas podem realizar seus próprios voos.
13 de junho de 2010
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2 comentários:
PARABÉNS CLAÚDIA, SUA MATERIA É DE INTERESSE GLOBAL.MUITO INTERESSANTE.
edileuterio@ITELEFONICA.COM.BR
Muito interessante, Claudia.
Parabéns e obrigada pela divulgação de assunto tão atual.
Saudade de você.
Grande abraço de luz
Zulmira
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